Tecidos do cotidiano




    Fernanda Lago é uma jovem artista que desperta interesse logo que vemos suas ações e instalações, num segundo olhar aparecem claras as evidências arquetípicas ao conduzir suas intenções transcendendo o apelo formal, e acionando outros sentidos que encontramos na arte contemporânea.  Escutar nosso pulsar por um estetoscópio dentro de um túnel denominado de Akshatam 2 , eu comigo mesma  em sânscrito. A auscultação é executada com a finalidade de  examinar o sistema circulatório e sistema respiratório, sons do coração e sons da respiração.

   Nas palavras de Fernanda, seria uma auto-descoberta como espaço de reflexão de si e do espectador ao nos encontrarmos imersos na arquitetura de tecido e acrilon, obtendo uma experiência estética e metafísica. Este material sintético, acrilon, é constantemente utilizado pela artista para construir sua poética ao imprimir como molde a partir de seu corpo, parecendo emergir de uma nuvem artificial ao medir o espaço da ação, e ampliando nossa capacidade de perceber o mundo. 

   Em outra instalação, o espectro atravessa um voil branco, onde quem se encontra dentro visualiza a cena externa, e quem está fora não enxerga quem está dentro, deste lugar chamado de “sagrado” pela artista. Cria também  um paradoxo ao desmistificar a aura da obra de arte, num mantra tecido pelo tempo como performance etérea em toda sua plena fisicalidade.

Alexandre Antunes¹
outubro 2011


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¹ Alexandre Antunes - artista visual, nasceu e vive em Porto Alegre, cursou Filosofia no IFCH/UFRGS de 1995/1999, morou na Enseada das Garças/ES, Florianópolis/SC e Santiago do Chile, onde realizou uma exposição individual na galeria Bucci no período de 1996/1997. Participou de diversas exposições coletivas e realizou dez individuais. Atua como escritor, curador, editor, revisor com Edmilson Vasconcelos no web site: www.dobbra.com/terrenobaldio.htm